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Livros comentados & Fichamentos

Caros[as], esta sessão é dedicada a indicação de livros e publicação de fichamentos que elaboro [ou elaborei durante o Mestrado]. Não há outro fim senão 'tirar da gaveta'. Os títulos são visualmente identificados ou estão apontados no início de cada barra.
Ah, se as aspas não foram indicadas, sugiro leitura do original.
Abraço, PAZ & BEM.
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SESSÃO DE LIVROS

Nada escapou ao olhar de Ruy Castro ao abordar em seu livro a passagem da Família Real pela cidade do Rio de Janeiro. Mais interessante ainda fora a sensibilidade em contextualizar cada personagem ofertando ao leitor a explicação do Brasil e do cenário europeu que empurrara D. João VI aos trópicos.
Pelas ruas esburacadas do centro do Rio todos[as] passaram e atuaram: o inglês e seus interesses, ladrões, prostitutas, chefes de polícia, os atravesssadores de toda ordem, burocratas parasitários, o próprio rei [que não me parece como protagonista], a peçonhenta Rainha Carlota, o infante Pedro [suas travessuras e escapes], seu amigo Leonardo e os momentos dentro e fora da corte,... Todo o universo é delineado  por cada personagem, sem a necessidade do repetitivo ''na época...''
Fica a dica!
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SESSÃO DE FICHAMENTOS

Título: Descrição de uma viagem a Canudos
Autor: Alvim Martins Horcades

Lellis Piedade, prefacista da obra de Horcades, não esteve em Canudos.

Palavras de Lellis Piedade: Não estive no centro das luctas de Canduso e sobre ellas não posso ter juízo seguro, de modo que a duas cousas panas posso me referir: às tradicções honrosas trazidas da bavura do soldado que soube bater-se pelo restabelecimento da Lei, onffendida profundamente por um fanatismo sem nome...

O que mais influiu no meu animo para a publicação desta singella narrativa foi, não só scientificar a todos os brazileiros, que a mocidade da Faculdade de Medicina da Bahia ainda conserva aninhada no seu coração o incentivo vivido e pujante dos seus progenitores, como também proporcionar aquelles que não tiveram ainda completo conhecimento de factos particulares e interessantes que se deram em uma campanha da civilisação contra a barbaria, uma narração, posto que muito vaga, todavia fiel e exacta do que se passou; conduzir o pensamento dos que me deram a honra de ler a regiões incógnitas para si, apresentando aos seus olhos uma importante viagem, emprehendida por campos e montanhas, em desaffronta da honra de uma terra heróica por muitos títulos, por uma plêiade de jovens que com o máximo ardor quizeram levar também o lenitivo e o conforto as dores que soffriam os seus irmãos, combatentes e combatidos, n’um campo onde não se via nem a deusa magestosa do lar nem o patrono complacente da ventura. I e II.

- esta obra não foi publicada antes por motivos ‘’imperiosos’’. p. IV.

 , ao correr o mez de julho de 1897, de súbito propaga-se a noticia de que os soldados defensores das instituições republicanas contra as guerras do fanatismo estóico de um grupo de irmãos degenerados perecia em Canudos ...p. 1.

 ..., nós os jovens inexperientes, resolvemos offerecer incondicionalmente nossos serviços, afim de melhorarmos na medida de nossas forças a sorte dos nossos caros irmãos, que a desdita havia conduzido para inhospitos montes, onde nem siquer o corvo negrado e sedento queria bater as suas agourentas asas. p. 2.

Quando os apóstolos da Caridade e os ministros da sciencia de Esculapio, aquelles que já tinham obtido o que procuramos conquistar e a quem competia mais a missão de levar o allivio aos que sofffriam, recusaram-se ou não se collocaram em seus postos, nós, apezar dos poucos conhecimentos que tínhamos; nos puzemos no logar d’elles e marchamos para o local em que havíamos de ser immolados em holocausto à República ou voltaríamos gloriosos pela ufania da victoria. p. 6.

(...)

É preciso também dizer que para lá seguindo não fomos servir a homens de paixões desvairadas ou de princípios comedidos; não fomos servir a militares illustres nem tarimbeiros relés; lá não tinhamos política, não nos filiamos  a partidos; o nosso era um, único e exclusivo, o maior e mais bem intencionado, porquanto não fazia mal, não censurava ao adversário, mas guerreava-o até a morte, era composto de poucos, porque poucos o amam – a Caridade! p. 7.

(...)

            Foi assim que, as duas horas da tarde do dia 27 de Julho de 1897, debaixo dos mais enthusiasticos vivas da mocidade de todas as escolas superiores d’esta capital e acclamações do povo, embarcamos em um carro de 1ª ordem, tirado pela locomotiva n. 18, com destino a cidade de Alagoinhas, onde chegamos, após demorada, porém salutar viagem, às 7 horas da noite, reinando em todo o trajecto o mais indescriptivel enthusiasmo, devido naturalmente e a acção nobre e digna que íamos praticar, pois o Bem era nosso lema, o civismo nossa divisa.

- civilisaçao. p. 8.

Voltamos para o hotel [em Alagoinhas] e às 4 horas da madrugada do dia seguinte éramos despertados pelo silvo da locomotiva número 28, que havia de nos conduzir a cidade de Queimadas, que a horda conselheirista fez com que o governo da união transformasse em praça de guerra. p. 10.

(...)

A Queimadas chegamos às 2 horas da tarde.
Ahi já principiamos a sentir pela família o que martyrisa o coração e acabrunha o espírito – a saudade: ali já principiamos a soffrer os horrores da guerra e as decepções do homem grosseiro. p. 12.

(...)

            Era o Sr. commandante da praça, major Nemésio de Sá que com a grosseria que lhe é característica, dizia, ao scientificarmos-lhe que éramos os acadêmicos de medicina: “Pois bem, isto aqui é Queimadas; os Sr. procurem seus commodos; eu não tenho nenhum nem posso dar nada”. p. 12.

(...)

            Logo que chegamos a Queimadas depois de nos receber d’essa maneira o Sr. commandante da praça Nemésio de Sá], procuramos os meios de que podíamos lançar mão, quando se nos apresenta o sympathico e illustre alferes José L. Sodré Pereira, do 16 de infantaria a offerecer-nos a sua casa, “que embora pequena, poderia comportar todos aqueles que desinteressadamente marchavam pressurosos em defesa do torrão patrio e que também eram seus colegas.” Alguns ficaram com o Sodré e outros com os demais officiaes do 24, que além das muitas amabilidades que nos dispensaram, disseram – “Serem todos companheiros de lucta.” p. 13.

No dia 30, às 8 horas, deixávamos esse pouso [Lagoa da Onça] e seguíamos caminho de Monte Santo. Ás 10 horas chegávamos à casa do bom e distincto velho “Buraqueira”, que relevantíssimos serviços prestou a todas as expedições militares contra Canudos. (...) Desde Dezembro, disse-me Buraqueira, que trabalhava para o governo. p. 15.

(...)

            As 7 horas  da manhã já recebíamos um officio do major Dr. José Lopes Junior, então chefe do serviço sanitário da praça, no qual nos recommendava insistentemente que com toda urgência nos apresentássemos ao Director do Hospital, o illustre capitão Dr. Everaldino Cícero de Miranda, pois que os nossos serviços eram ali reclamados. p. 17.

(...)

            Principiamos então a trabalhar, depois de nos ter recebido como manda a educação do homem da sciencia – com toda a delicadeza, o illustre Dr. Everaldino, um dos poucos médicos militares que prestaram serviços de boa vontadee não correram de marcha batida até esta capital a narrarem minuciosamente todos os episódios de campanha. p. 18 e 19.

Distante, porém, do Joeté,uma legoa encontrava-se ainda um baluarte formidável para o fanatismo estúpido dos nossos ignorantes irmãos... p. 27.

Os jagunços para comprovarem ainda uma vez a sua selvageria indômita, ataram em uma árvore, a beira da estrada, o cadáver do ilustre militar [Coronel Tamarindo], estando as botas ao lado e trajando o seu uniforme, tendo elles decepado previamente a cabeça. p. 29.

Eram três horas da tarde do dia 6 de agosto quando chegamos ao posto incógnito, para onde nos conduziu a comprehensao do dever e do civismo, a abnegação e o amor a Pátria - o hediondo e o lúgubre Canudos. p. 30.

Com a nossa chegada foi o serviço dividido em secções, sendo uma sob a direção do Chefe Dr. Cúrio e outra sob as ordens do Major Dr. Seixas. p. 32.

- os médicos militares não foram amáveis. p. 33.

Feridos vimos que havia oito, dez e quinze dias não recebiam nem ao menos a frescura da água sobre a chaga ou chagas que a sua dedicação havia feito. p. 33.

Horcades sai de Canudos e volta a Monte Santo: chegamos a Monte Santo no dia 20 [agosto], às 9 horas da manhã. Ahi encontrei atacado de varíola o nosso distincto collega Ackilles Lisboa, que era cercado por alguns collegas, que procuravam a porfia dar-lhe tratamento condigno. p. 38

- narraram-se o modo áspero, porque eram diversos tratados pelo Sr. Dr. Alvellos, então chefe do serviço sanitário da praça.... p. 39.

E depois se queixavam dos jagunços! Eles estavam o seu papel, de fazer-nos todo mal, nós é que precisávamos garantir-nos. p. 41.

            No dia em que cheguei [a Canudos] encontrei muito doente de febre, diagnosticada por typho-malarica, o bo collega e amigo Joaquim Afonso Pedreira. Notei que a sua physionomia apresentava um aspecto de moribundo e, não podendo elle se alimentar, nem mesmo soffrivelmente amsi crescia sua debilidade; além disso não queria absolutamente ingerir medicamento de espécie alguma, pelo que dei-lhe um frasco de perolas de quinino de Clertan, cognac, ovos que comprei em caminho e mais algumas cousinhas indispensáveis ao doente... p. 42.

Obedecendo aos seus princípios de educação não pratica os actos de vandalismo que outros tem honra em fazer. p. 49.

De todos os collegas que para lá foram só teve um que destoou da correção de proceder, já recusando-se a seguir para onde se lhe mandava, como fez três vezes, quando o chefe do serviço de Monte Santo mandou-o para Canudos, já procurando nos desmoralisar, por meios indignos. O único trabalho que fez foi conduzir comboios de Monte-Santo para esta capital. p. 52.

(...)

        De todos os collegas que para lá foram só teve um que destoou da correcção de proceder, já recusando-se  a seguir para onde se lhe mandava, como fez três vezes, quando o chefe do serviço em Monte Santo mandou-o para Canudos, já procurando nos desmoralisar, por meios indignos. O único trabalho que fez foi conduzir comboios de Monte Santo para esta capital. p. 53.

- quando a narrativa se “equilibra”. p. 59.


De outro lado era o miserável sobre o qual actuava a inconsciência dos actos, massa corpórea que aninhava todas as fadigas de uma delongada excursão accidentada por entre regiões ínvias, onde ia tomar sobre os hombros as conseqüências funestas do crime revoltante de extermínio da humanidade, como si um ardor fremente o impelisse a esses actos de verdadeiro apostolado do mal, attenuado, entretanto, pelo estado physiologico do seu cérebro, real conseqüência da direcção de um mentecapto, onde abundavam a hediondez e o banditismo vis, ao lado de muitos que, por uma convicção própria, embora dirigida para o mal, julgavam certamente corresponder à espectativa de seus concidadãos, pensando provirem d’alli o bem e o porvir fagueiro para suas famílias, que seguiam o grande princípio ‘’da lucta pela existência’’, sem outro interesse a não ser a convicção da causa que abraçavam e pela qual trabalhavam com tanta dedicação, passando as maiores privações possíveis, sem os meios precisos para a sua subsistência, sem os adversários, debaixo de uma perseguição se tréguas, levantada pelo governo de um paiz, dirigida por homens civilizados e que tinham consciência dos actos praticados e ainda mais do que tudo pelo rancor indômito que tributavam  ao seu inimigo. p. 60.

Concidadãos, eu acho que o miserável que lucta pela convicção devotada a uma idéia e que por ella soffre tornando-se martyr, é mais heroe do que o soldado que lucta por uma convicção, mas também pelo compromisso. p. 60.

Nesta noite me competia o quarto de 2 horas da madrugada às 6 horas da manhã, sendo eu à hora aprazada despertando pelo sempre affável collega Ernesto Teixeira. Minha barraca ficava na encosta de um monte, perto do cume, fronteiro ao hospital e atraz do qual demorava a cidadella rebelde. p. 64.

(...)

Às 11 horas chegou ferido no estomago, por bala “Manulicher”, o bravo Major Henrique Severiano; fui, pelo Chefe do Corpo Sanitário, mandado servir como seu assistente. Larguei, pois, o meu trabalho para tomar conta deste. p. 77.

 Chegou a noite e então começamos a antolhar um dos mais cruéis e ao mesmo tempo dos mais bellos espetáculos imagináveis: uma cidade incendiando-se! Realmente era cruel ver-se habitações feitas para o repouso de membros fatigados e para acobertar cabecinhas inocentes, que ainda não haviam dado o primeiro passo vacilante neste mundo de misérias, corpos alquebrados pelo peso dos annos e organismos atrophiados pela inflexível enfermidade, devastadas pela chamma voraz, que nada respeita... Mas era ao mesmo tempo agradável ver-se destruir pelo alicerce as moradias d’aquelles que se voltaram contra seus irmãos e as quaes faziam parte daquelle antro que resguardava a selvageria e a perversidade do castigo ordenado por um poder superior. p. 80.

(...)

         Vi desde o dia em que cheguei toda a sorte de misérias, porém, como deste em deante, não; e é puramente impossível. Penetramos em uma ruasinha que tinha um correr de casas derrocadas, mas outro em pé; n’este é que se achavam quase todos os jagunços.
        Em uma d’essas casas penetramos e a impressão foi a mais horrível: dezenas de homens, mulheres e creanças, mortos quase todos à fome e sêde e também quase privados da fala e de mistura com diversos corpos, que, gélidos adormeciam. Compungiu-me sobre modo a maneira, por que estava uma menina de dez annos, tendo os lábios cobertos de pus e ressequidos pela sede que martyrisava-a sentada debaixo de uma mesa, junto a uma velha, toda crivada de balas. p. 82 e 83.

Canudos não eram mais que um antro de ignorância, que o medo e a covardia de alguns tornaram em um reducto quase inexpugnável. p. 96.

Antonio Conselheiro, o bandido-chefe da horda Canudense. p. 97 e 98.

Nos tempos antigos quando a civilisação achava-se ainda embryonada numa rachitica comprehensão, confiscava-se os bens do individuo na parte talvez mais civilizada da prisca sociedade, e agora, nos tempos hodiernos, quando a sciencia progrediu e a civilisação não é mais incógnita, numa das partes do mundo que se diz civilisada não mais confisca-se, assassina-se, mata-se, como se dessa forma extinguisse completamente a mania de revoluções! Bello exemplo de civismo e progredimento social. p. 103 e 104.

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Título: Que é História?
Autor: Edward Hallet Carr

Os cientistas naturais não mais se vêem como estabelecendo leis universais por indução de fatos observados, mas empenhando-se em descobertas através da interação de hipóteses e fatos. E a história, como as ciências naturais, diz respeito não, como se supõe algumas vezes, aos acontecimentos únicos, mas à interação entre o único e o geral. O historiador está comprometido com a generalização, e de fato “o historiador não está realmente interessado no único, mas no que é geral no único”. p.21.

... as teorias históricas são por natureza teorias de mudança... p. 31.

... Os fatos falam apenas quando o historiador os aborda: é ele quem decide quais os fatos que vêm à cena e quem que ordem ou contexto. p. 47.

- fato básico - interpretação da selação - fato histórico; e deve-se levar em conta o background do historiador.

O dever do historiador de respeitar seus fatos não termina ao verificar a exatidão deles. Ele deve procurar focalizar todos os fatos conhecidos, ou que possam ser conhecidos, e que tenham alguma importância para o tema em que está empenhado e para a interpretação a que se propôs. p. 63.

Portanto, minha primeira resposta à pergunta “Que é história?” é que ela se constitui de um processo contínuo de interação entre historiador e seus fatos, um diálogo interminável entre o presente e o passado. p. 65.

A função da história é promover uma compreensão mais profunda de ambos – o passado e o presente – através da inter-relação entre eles. p. 102.

..., o presente não tem mais do que uma existência ideal, como uma linha divisória imaginária entre o passado e o futuro. p. 141.
  
..., a objetividade na história não pode ser uma objetividade de fato, mas somente de relação, da relação entre fato e interpretação, entre passado, presente e futuro. p. 153.

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Título: Escritos sobre a História
Autor: Fernand Braudel

(...) Desde o desaparecimento de Georges Gurvitch, a fragmentação da Sociologia tornou-se a regra ou a moda. (...) p. 9.

I – OS TEMPOS DA HISTÓRIA

(...) a história-relato não é um método objetivo por excelência, mas antes uma filosofia da história;
            (...) A história talvez esteja condenada a estudar somente jardins bem fechados por muros. p. 15.

(...), nossa velha profissão de historiador não cessa de desabrochar e de reflorir em nossas mãos. p. 19.

            Um novo mundo, por que não uma nova história. p. 19.

... historiadores  de hoje, temos o sentimento de pertencer a uma outra era, a uma outra aventura do espírito. p. 21.
(...) Mas para que discutir essa tumultuosa palavra ciência e sobre todos os falsos problemas que daí derivam? Para que empenhar-se no debate, mais clássico, porém, ainda mais estéril, da objetividade e da subjetividade na história do qual não nos libertaremos enquanto os filósofos talvez por hábito, nele se demorarem enquanto não ousarem perguntar a si mesmos que as ciências mais gloriosas do real não são, também, objetivas e subjetivas ao mesmo tempo. Por nós, que nos resignaríamos sem esforço a não crer na obrigação da antítese, aliviaríamos discussões de método. p. 21 e 22.

   Como a própria vida, a história se nos aparece como um espetáculo fugidio, movediço, feito do entrelaçamento de problemas inextrincavelmente misturados e que pode tomar, alternadamente, cem aspectos diversos e contraditórios. p. 22.

... todas as aventuras individuais se fundem numa realidade mais complexa, a do social, uma realidade “entrecruzada”, como diz a sociologia. p. 23.
..., a história também faz os homens e talha seu destino – a história anônima, profunda e amiúde silenciosa, cujo incerto mas imenso domínio, é preciso abordar agora. p. 23.

            Quem saberia, nos fatos confusos da vida atual, distinguir tão seguramente o durável do efêmero? p. 31.
            Não é necessário multiplicar os exemplos explicar, durante esses últimos anos, se enriqueceu com aquisições e contribuições de suas vizinhas. p. 33.

            O perigo de uma história social, todos nós o percebemos: esquecer, na contemplação dos movimentos profundos da vida dos homens, cada homem às voltas com sua própria vida, seu próprio destino; esquecer, negar talvez, o que cada indivíduo sempre tem de insubstituível. Pois contestar o papel considerável que se quis dar a alguns homens abusivos na gênese da história, não é, certamente, negar grandeza do indivíduo, enquanto indivíduo, nem um interesse para um homem, de se debruçar sobre o destino de outro homem. p. 35.

II – A HISTÓRIA E AS OUTRAS CIÊNCIAS DO HOMEM

            A nova história econômica e social põe no primeiro plano de sua duração: prendeu-se à miragem, também à realidade das subidas e descidas cíclicas dos preços. Hoje, há assim, ao lado do relato (ou do “recitativo” tradicional), um recitativo da conjuntura que põe em questão o passado por largas fatias: dez, vinte ou cinqüenta anos. p. 44.

            Não que as palavras sejam de uma certeza absoluta. p. 45.
(...) Ora, notemo-lo, crônica ou jornal, fornecem, ao lado dos grandes acontecimentos ditos históricos, os medíocres acidentes da vida ordinária: um incêndio, uma catástrofe ferroviária, o preço do trigo, um crime, uma representação teatral, uma inundação. p. 45.

A descoberta maciça do documento levou o historiador a crer que, na autenticidade documentária estava toda a verdade. p. 46.

Por estrutura, os observadores do social entendem uma organização, uma coerência, relações bastante fixas entre realidades e massas sociais. Para nós, historiadores, uma estrutura é sem dúvida, articulação, arquitetura, porém mais ainda, uma realidade que o tempo utiliza mal e veicula mui longamente. p. 49.

            Falamos de nossa desconfiança em relação a uma história puramente factual. Sejamos justos: se há um pecado factualista, a história, acusada de escolha, não é a única culpada. Todas as ciências sociais participam do erro. p. 55.

O social é uma caça muito mais ardilosa. p. 57.

... não crer que somente os atores que fazem barulho sejam os mais autênticos. p. 59.

(...) A revolução, pois, é uma revolução do espírito, consistiu em abordar de frente essa semi-obscuridade, em lhe conceder um lugar cada vez maior ao lado, até em detrimento, do factual. p. 61.

Os ciclos econômicos, fluxo e refluxo da vida material, se medem. Uma crise estrutural social deve, igualmente, referir-se no tempo, através do tempo, situar-se exatamente nela mesma e mais ainda em relação aos movimentos das estruturas concomitantes. O que interessa apaixonadamente um historiador é o entrecruzamento desses movimentos, sua interação e seus pontos de ruptura: coisas todas que só podem se registrar em relação ao tempo uniforme dos historiadores, medida geral de todos esses fenômenos, e não no tempo social multiforme, medida particular a cada um desses fenômenos. p. 73.

            Na prática – pois esse artigo tem um fim – desejaria que as ciências sociais, provisoriamente, cessassem de tanto discutir sobre suas fronteiras recíprocas, sobre o que é ou não é ciência social, o que é ou não é estrutura... Que procurem antes traçar, através de nossas pesquisas, as linhas, se existem linhas, que orientariam uma pesquisa coletiva, bem como os temas que permitiram atingir uma primeira convergência. Essas linhas, chamo-as pessoalmente: matematização, redução ao espaço, longa duração... p. 77.

IV – UNIDADE E DIVERSIDADE DAS CIÊNCIAS DO HOMEM

(...): cada ciência social é imperialista, mesmo se ela se proíbe de sê-lo; tende a apresentar suas conclusões como uma visão global do homem. p. 80.

..., nossa disciplina é a mais literária, a mais legível das ciências do homem, a mais aberta ao grande público. p. 85.

V – HISTÓRIA E SOCIOLOGIA

(...) Todas as ciências sociais se contaminam umas às outras e a história não escapa a essas epidemias. p. 93.

..., o inédito não é jamais perfeitamente inédito. Ele coabita com o repetido ou o regular. p. 96.
(...); História e Sociologia são as únicas ciências globais, suscetíveis de estender sua curiosidade a não importa que aspecto social. p. 99.

(...) A longa duração é a história interminável, durável das estruturas e grupos de estruturas. p. 106.

VI – PARA UMA ECONOMIA HISTÓRICA

(...) Penso também que, ainda no início do século XIX, a França é uma série de Franças provinciais, com seus círculos de vida bem organizados, e que, ligadas em conjunto pela política e as trocas, se comportam, uma em relação à outra, como nações econômicas, com regulamentos segundo as lições de nossos manuais, e portanto, deslocamentos de numerário para reequilibrar o balanço de contas. p. 121.


IX – SOBRE UMA CONCEPÇÃO DA HISTÓRIA SOCIAL

... a história não pode ser concebida senão em n dimensões. p. 176.

XII – A HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES

            Em 1918-1922, Oswald Spengler modifica um pouco a relação habitual. Ele vê na cultura os inícios, a inspiração criadora, a primeira fecunda de toda a civilização; a civilização, ao contrário, é outono, a repetição, o mecanismo vazio, a grandeza aparente, a esclerose. p. 242.

            O que este livro [que não é o de Braudel] apaixonado persegue sob o nome de cultura do Ocidente, é em definitivo um ser místico, uma alma. Daí suas afirmações rituais: “uma cultura nasce no momento em que uma grande alma desperta”, ou, o que dá no mesmo: “uma cultura morre quando a alma realizou a soma total e suas possibilidades.” p. 250.

            Uma civilização, para Arnold Toynbee, só morre depois de séculos de existência, mas essa morte, muito tempo antes, se assinala por perturbações interiores e exteriores, insistentes, das quais o narrador, se é que há narrador, não sai mais, das perturbações em cadeia, diremos. Essas perturbações se acalmam, um belo dia, pelo triunfo do gendarme, quero dizer, a instalação de uma vasto Império. Mas esse Império “universal” é somente uma solução provisória, por dois, três ou quatro séculos, o que, medido pela escala temporal das civilizações, não é senão um instante, nem mais, “um piscar de olhos”. p. 259 e 260.

... a História, em geral, se encontra numa encruzilhada. Cumpre-lhe, queira ou não, assimilar todas as descobertas que as diversas ciências sociais, de nascimento mais ou menos recente, acabam de fazer, no domínio inesgotável da vida dos homens. Tarefa difícil, mas urgente, por onde já trilhava, que a história poderá servir, em primeiro plano, à inteligência do mundo atual. p. 266.

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Título: Momerial de Vilanova 
Autor: Nertan Macedo

Na orelha...
            Honório, irmão de Antonio Vilanova, conta a Nertan Macedo o que testemunhou antes, durante e depois da guerra dos beatos e dos jagunços.

            Invocou [Antonio Vilanova] o triste estado da família, morrendo de fome, sendo ainda de notar que Honório, ferido e inválido, exigia especiais cuidados. p. 15.

(...) Sua influência ia sendo aproveitada pelos chefes de política loca, que por isso o protegiam, até que, em 1896, um rompimento de Antonio Conselheiro com o comissário de polícia de Juazeiro de início a essa triste e miseranda luta, que custou tanto sangue ao país. p. 20.
            Antonio Conselheiro sucumbiu à desinteria, que grassava em Canudos, e a 6 de outubro de 1897 procedeu-se à exumação do seu cadáver, sendo este trabalho feito por uma comissão médica, composta dos Drs. Major José Cúrio, Capitães Mourão e Gouveia Freire, Tenente Jacob Gaioso e o sextanista João Pondé. p. 21.

            Olinda era o ninho dos reverendos liberais e maçonizados, que não distinguiam um barrete ou um chapéu de cura de uma toga de magistrado ou bacharel em leis, embora conhecessem a doutrina católica e as leis canônicas. Amavam, na verdade, o barrete frígio de 1789. Era o tempo do Padre José Martiniano de Alencar, que, ainda não ordenado, vinha de Pernambuco ao Crato proclamar a república de 17. Era a época do padre aventureiro e imoral, como o célebre Cerbelon Verdeixa, de gaiata memória.
            Esses clérigos, possuídos do sonho libertário e individualista, infestavam os sertões de outrora. Um deles, Feijó, dominava o Império, no Sul; outro, José Martiniano de Alencar, a província do Ceará, projetando-se daí para o alto mundo da Corte. p. 82.

Reverendos, doutores e matemáticos se uniram contra Canudos. É de uma significação profunda, inconsciente embora, aquelas palavras de apresentação de Antonio Beatinho ao chefe militar a que se rendeu em Canudos:
            “Saiba o doutor-general que eu me chamo Antonio Beatinho...” p. 85.

- biografia do padre José Antonio Pereira Ibiapina. p. 85 a 90.
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Título: A estrutura das revoluções científicas
Autor: Thomas S. Kuhn

Introdução: um papel para a história

(...) Este ensaio tenta mostrar que esses livros nos têm enganado em aspectos fundamentais. Seu objetivo é esboçar um conceito de ciência bastante diverso que pode emergir dos registros históricos da própria atividade de pesquisa. p. 19.

Com quase igual regularidade, os mesmos livros têm sido interpretados como se afirmassem que os métodos científicos são simplesmente aqueles ilustrados pelas técnicas de manipulação empregadas na coleta de dados manuais, juntamente com as operações lógicas utilizadas ao relacionar esses dados às generalizações teóricas desses manuais. O resultado tem sido um conceito de ciência com implicações profundas no que diz respeito à sua natureza e desenvolvimento. p. 20.

..., o historiador parece então ter duas tarefas principais. De um lado deve determinar quando e por quem cada fato, teoria ou lei científica contemporânea foi descoberta ou inventada. De outro lado, deve descrever e explicar os amontoados de erros, mitos e superstições que inibiram a acumulação mais rápida dos elementos constituintes do moderno texto científico. p. 20.

Talvez a ciência não se desenvolva pela acumulação de descobertas e invenções individuais. p. 21.

Teorias obsoletas não são em princípio acientíficas simplesmente porque foram descartadas. p. 21.

(...) Pelo menos implicitamente, esses estudos históricos sugerem a possibilidade de uma nova imagem da ciência. Este ensaio visa delinear essa imagem ao tornar explícitas algumas das implicações da nova historiografia. p. 22.

(...) O que diferenciou essas várias escolas não foi um ou outro insucesso do método – todas elas eram “científicas” – mas aquilo que chamaremos a incomensurabilidade de suas maneiras de ver o mundo e nele praticar a ciência. p. 23.

(...) A pesquisa eficaz raramente começa antes que uma comunidade científica pense ter adquirido respostas seguras para perguntas como as seguintes: ... p. 23.

- forçar a natureza a esquemas conceituais fornecidos pela educação profissional. p. 24.

- onde e com quem estaria o elemento de arbitrariedade. p. 24.

(...) Ciência normal, atividade na qual a maioria dos cientistas emprega inevitavelmente quase todo seu tempo, é baseada no pressuposto de que a comunidade científica sabe como é o mundo. p. 24.

..., quando os membros da profissão não podem mais esquivar-se das anomalias que subvertem a tradição existente da prática científica – então começam as investigações extraordinárias que finalmente conduzem a profissão a um novo conjunto de compromissos, a uma nova base para a prática da ciência. Os episódios extraordinários nos quais ocorre essa alteração de compromissos profissionais são denominados, neste ensaio, de revoluções científicas. (...) p. 24.

(...) É por isso que uma nova teoria, por mais particular que seja seu âmbito de aplicação, nunca ou quase nunca é um mero incremento ao que já é conhecido. p. 26.

(...) A competição entre segmentos da comunidade científica é o único processo histórico que realmente resulta na rejeição de uma teoria ou na adoção de outra. p. 27.

1. A rota para a ciência normal

Neste ensaio, “ciência normal” significa a pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas passadas. p. 29.

(...) O estudo dos paradigmas, muitos dos quais bem mais especializados do que os indicados acima, é o que prepara basicamente o estudante para ser membro da comunidade científica determinada na qual atuará mais tarde. Uma vez que ali o estudante reúne-se a homens que aprenderam as bases de seu campo de estudo a partir dos mesmos modelos concretos, sua prática subseqüente raramente irá provocar desacordo declarado sobre pontos fundamentais. Homens cuja pesquisa está baseada em paradigmas compartilhados estão comprometidos com as mesmas regras e padrões para a prática científica. p. 30.

            Essas transformações de paradigmas da óptica física são revoluções científicas e a transição sucessiva de um paradigma a outro, por meio de uma revolução, é o padrão usual de desenvolvimento da ciência amadurecida. p. 32.

- é importante construir uma ciência socialmente aceitável? p. 33.

(...) Para ser aceita como paradigma, uma teoria deve parecer melhor que suas competidoras, mas não precisa (e de fato isso nunca acontece) explicar todos os fatos com os quais pode ser confrontada. p. 38.

(...) O cientista que escreve um livro tem mais probabilidades e ver sua reputação comprometida do que aumentada. De uma maneira regular, somente nos primeiros estágios do desenvolvimento das ciências, anteriores ao paradigma, o livro possuía a mesma relação com a realização profissional que ainda conserva em outras áreas abertas à criatividade. p. 41.

2. A natureza da ciência normal

(...) No seu uso estabelecido, um paradigma é um modelo ou padrão aceito. (...). p. 43.

(...) A ciência normal não tem como objetivo trazer à tona novas espécies de fenômeno; na verdade, aqueles que não se ajustam aos limites do paradigma frequentemente mostram-se intolerantes com aquelas inventadas por outros. Em vez disso, a pesquisa científica normal está dirigida para a articulação daqueles fenômenos e teorias já fornecidos pelo paradigma. p. 45.

            Para mostrar mais claramente o que entendemos por pesquisa normal ou baseada em paradigma, tentarei agora classificar e ilustrar os problemas que constituem essencialmente a ciência normal. p. 45.

(...) Mas os problemas extraordinários não surgem gratuitamente. Emergem apenas em ocasiões especiais, geradas pelo avanço da ciência normal. p. 56.

3. A ciência normal como resolução de quebra-cabeças

(...) Pelo menos para os cientistas, os resultados obtidos pela pesquisa normal são significativos porque contribuem para aumentar o alcance e a precisão com os quais o paradigma pode ser aplicado. (...) p. 58.

Já vimos que uma comunidade científica, ao adquirir um paradigma, adquire igualmente um critério para a escolha de problemas que, enquanto o paradigma for aceito, podem ser considerados como dotados de uma solução possível. Numa larga medida, esses são os únicos problemas que a comunidade admitirá como científicos ou encorajará seus membros a resolver. Outros problemas, mesmo muitos dos que eram anteriormente aceitos, passam a ser rejeitados como metafísicos ou como demasiado problemáticos para merecerem o dispêndio de tempo. (...) p. 60.

(...) Um homem pode sentir-se atraído pela ciência por todo o tipo de razoes. Entre essas estão o desejo de ser útil, a excitação de encontrar ordem e o impulso para testar o conhecimento estabelecido. Esses motivos e muitos outros também auxiliam a determinação dos problemas particulares com os quais o cientista se envolverá posteriormente. Além disso, existem boas razões para que motivos dessa natureza o atraiam e passem a guiá-lo, embora ocasionalmente possam levá-lo a uma frustração. p. 60 e 61.

4. A prioridade dos paradigmas

... os paradigmas poderiam determinar a ciência normal sem a intervenção de regras que podem ser descobertas. (...) p. 71.

...os cientistas nunca aprendem conceitos, leis e teorias de uma forma abstrata e isoladamente. Em lugar disso, esses instrumentos intelectuais são, desde o início, encontrados numa histórica e pedagogicamente anterior, onde são apresentados juntamente com suas aplicações a uma determinada grama concreta de fenômenos naturais; sem elas não poderia nem mesmo candidatar-se à aceitação científica. p. 71.

(...) Na medida em que o estudante progride de seu primeiro ano à sua tese de doutoramento, os problemas a enfrentar tornam-se mais complexos, ao mesmo tempo em que diminui o número dos precedentes que poderiam orientar seu estudo. (...) p. 72.

(...) Quando os cientistas não estão de acordo sobre a existência ou não de soluções para os problemas fundamentais de sua área de estudos, então a busca de regras adquire uma função que não possui normalmente. Contudo, enquanto os paradigmas permanecem seguros, eles podem funcionar sem que haja necessidade de um acordo sobre as razões de seu emprego ou mesmo sem qualquer tentativa de racionalização. p. 74.

5. A anomalia e a emergência das descobertas científicas

(...) Na ciência, assim como na experiência com as cartas do baralho, a novidade somente emerge com dificuldade (dificuldade que se manifesta através de uma resistência) contra um pano de fundo fornecido pelas expectativas. (...) p. 91.

(...) Quanto maiores forem a precisão e o alcance de um paradigma, tanto mais sensível este será como indicador de anomalias e, consequentemente de uma ocasião para a mudança de paradigma. p. 92.

6. As crises e a emergência das teorias científicas

... uma nova teoria surgiu somente após um fracasso caracterizado na atividade normal de resolução de problemas. p. 103.

7. A resposta a crise

(...) O que diferencia a ciência normal da ciência em estado de crise? Certamente não o fato de que a primeira não se defronta com contra-exemplos. (...) p. 110.

(...) O cientista que se detém para examinar cada uma das anomalias que constata raramente realizará algum trabalho importante. (...) p. 113.

8. A natureza e a necessidade das revoluções científicas

(...) O que são revoluções científicas e qual a sua função no desenvolvimento científico? (...) p. 125.

9. As revoluções como mudanças de concepção de mundo

..., em períodos de revolução, quando a tradição científica normal muda, a percepção que o cientista tem de seu meio ambiente deve ser reeducada – deve aprender a ver uma nova forma (gestalt) em algumas situações com as quais já está familiarizado. (...) p. 148.

(...) O que um homem vê depende tanto daquilo que ele olha como daquilo que sua experiência visual-conceitual prévia o ensinou a ver. p. 150.

(...) O que ocorre durante uma revolução científica não é totalmente redutível a uma reinterpretação de dados estáveis e individuais. (...) p. 159.

10. A invisibilidade das revoluções
...

11. A resolução das revoluções

... o pesquisador é um solucionador de quebra-cabeças... p. 186.

..., nenhuma teoria resolve todos os quebra-cabeças... p. 188.

(...) É somente através da ciência normal que a comunidade profissional de cientistas obtém sucesso; primeiro, explorando o alcance potencial e a precisão do velho paradigma e então isolando a dificuldade cujo estudo permite a emergência de um novo paradigma. p. 194.

12. O progresso através de revoluções

(...) O termo ciência está reservado, em grande medida, para aquelas áreas que progridem de uma maneira óbvia. p. 203.

            Os efeitos do isolamento frente à sociedade global são largamente intensificados por uma outra característica da comunidade cientifica profissional, a natureza de seu aprendizado. Na musica, nas artes gráficas e na literatura, o profissional adquire sua educação ao ser exposto aos trabalhos de outros artistas, especialmente àqueles de épocas anteriores. Manuais, com exceção dos compêndios ou manuais introdutórios às obras originais, desempenham um papel apenas secundário. Em história, filosofia e nas ciências sociais, a literatura dos manuais adquire uma significação mais importante. Mas, mesmo nessas áreas, os cursos universitários introdutórios utilizam leituras paralelas das fontes originais, algumas sobre os “clássicos” da disciplina, outras relacionadas com os relatórios de pesquisas mais recentes que os profissionais do setor escreveram para seus colegas. Resulta assim que o estudante de cada uma dessas disciplinas é constantemente posto a par da imensa variedade de problemas que os membros de seu futuro grupo tentarão resolver com o correr do tempo. Mais importante ainda, ele tem constantemente frente a si numerosas soluções para tais problemas, conflitantes e incomensuráveis, soluções que em última instância ele terá que avaliar por si mesmo. p. 209.

Posfácio - 1969

(...) Qualquer estudo de pesquisas orientadas por paradigma, ou que levam à destruição de paradigma, deve começar pela localização do grupo ou grupos responsáveis. p. 226.

(...) O conhecimento científico, como a linguagem, é intrinsecamente a propriedade comum de um grupo ou então não é nada. Para entendê-lo, precisamos conhecer as características essenciais dos grupos que criam e o utilizam. p. 260.
 

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